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Morei no norte da África com minha esposa e dois filhos por dez anos. Quando cheguei ao Marrocos compramos um veículo quatro por quatro, um Land Rover Discovery 1993 em Marrakech. Tinha espaço para sete adultos com os dois assentos extras na parte de trás. Foi adquirido com o dinheiro da venda de uma Parati VW usada que tínhamos no Brasil. Sim, acredite, o custo de veículos é bem mais em conta no estrangeiro do que na terra brazilis.

Resolvi adicionar um bagageiro de ferro maciço, desenhado por mim, e feito por um ferreiro local em uma pequena vila nas montanhas, a cinquenta e cinco quilômetros de Marrakech. De vez em quando precisava de um serviço mecânico. Lembro-me da ocasião em que um amigo mecânico escocês veio da Escócia com duas mochilas, uma delas com ferramentas e peças para substituir as quebradas. Ele ficou por algumas semanas. Ele fez um trabalho brilhante. No final de sua estadia, fizemos em sua homenagem um jantar de gala no pequeno hotel onde trabalhávamos. Ele nos surpreendeu ao chegar vestindo a roupa tradicional dos homens escoceses. Mais tarde, durante a festa, a muito custo ele me convenceu a usar o kilt. Quando finalmente apareci no grande salão com a saia escocesa, a plateia não podia acreditar no que seus olhos viam. Foi divertido. Allan é um homem fantástico, e fez um excelente trabalho consertando a embreagem do Discovery, que nunca mais deu problema.

Tempos depois, o veículo precisou de outra ajuda. O problema era maior. A caixa de embreagem precisava ser substituída. Meu amigo Michael veio do País de Gales, Reino Unido, dirigindo um Land Rover 110, rebocando um trailer com uma caixa de câmbio usada para substituir a minha. Que trabalho notável ele fez nos ajudando de uma maneira tão boa. São tantas as boas lembranças com o veículo. Usamos o Discovery por dez anos. Quando deixamos a África, nossos filhos quase choraram quando eu disse a eles que não poderíamos levar conosco o Discovery para o país de nossos passaportes. Se eu quisesse importar para o Brasil, precisaria pagar um imposto equivalente ao custo de um Land Rover novinho, que no país é um veículo bastante caro. O único jeito foi vendê-lo com dor no coração, e um bom homem da Suiça, morador do norte da África, ficou com ele.

Ainda sentimos falta do carro. Fazia parte da nossa família, grande participante de tantas viagens e aventuras pelo país e também de travessias pelo estreito de Gibraltar, no caminho para Portugal, Gibraltar e Espanha. Eu adoraria dirigir um Discovery novamente. Um Land Rover Discovery, tração permanente nas quatro rodas, com sete lugares, é um veículo fantástico. Se você tiver dinheiro para comprar e manter, e um gosto por aventuras. Eu também dirigi um Land Rover 110 quando trabalhava lá na África. Nada mal. Confesso que, se Deus permitisse, eu teria imensa alegria de voltar a dirigir tais viaturas.

A capacidade de tração 4×4 foram úteis nas montanhas e no deserto, passando pela terra do Saara Ocidental, um território anexado por Marrocos em 1975, e depois chegando à Mauritânia mais ao sul. Vindo de Tânger, porta de entrada para o Estreito de Gibraltar no norte da África, até Marrakech, são cerca de 570 km, ou 6 horas de carro. De Marrakech a Laayoune, (antigo território do Sahara Ocidental) são mais 880 km e 12 horas de viagem. E depois, de Laayoune a Nouadihbou na Mauritânia, mais 883 e 11 horas.

Foram muitas as viagens nesse carro entre Marrakech e Laayoune. Mas apenas uma vez ida e volta de Laayoune a Nouadihbou. Pode ser que um dia eu escreva sobre essas viagens. Hoje em dia as estradas são melhores. Lembro-me de quando a estrada entre Tânger e Marrakech não tinha pista dupla como hoje. E também como era perigoso viajar entre Marrakech e Agadir, a primeira grande cidade rumo ao sul no caminho para Laayoune, enfrentando uma estrada estreita nas montanhas, com muitas curvas e grande número de caminhões na estrada. Agora que a rodovia está duplicada, é muito melhor e mais seguro.

Viver em outro país lidando com culturas diferentes seria o equivalente a obter um diploma universitário. Por outro lado, viver com uma pessoa de outra cultura pode abrir a mentes. Outras formas de pensar, de fazer as coisas, e de viver. Fora o vestuário e a alimentação. A vida no deserto pode ser um retrato de nossa peregrinação no planeta Terra. Haverá momentos fantásticos, em que desfrutaremos de riachos no deserto, ou de oásis onde se pode reabastecer e seguir em frente. As estrelas à noite, brilhando no escuro. As conversas à volta da fogueira nos acampamentos. Mas também haverá lágrimas, dificuldades, batalhas pelo caminho. O estresse do dia a dia. Dificuldades e vitórias intercaladas, e a satisfação, o alívio, de descobrir que, com Cristo no coração, se tem acesso livre e direto para o conforto, a cura interior, o encorajamento, a vida que brota de dentro, vida que nenhuma dificuldade deste mundo ou do além tem o poder de impedir.

É grande o alívio interior no relacionamento com o doce e todo poderoso Espírito Santo, que Jesus prometeu nos deixar. O sofrimento ao longo do caminho e o encorajamento no meio dele. E apesar de todas as circunstâncias, e de lidar com pessoas boas e más, pode-se ter certeza de que existe uma presença disponível para qualquer pessoa disposta a tocar em Deus e encontrar Nele a verdadeira fonte da vida.

O melhor de tudo seria a experiência de conhecê-Lo, crescer na intimidade com Ele, aprender a confiar no Senhor, atravessar oceanos de sofrimento sabendo que o Capitão que está no comando, conhece o caminho e é mais do que capaz de nos levar ao outro lado com segurança. Existe o tempo precioso em que aprendemos a ficar calmos em Sua presença, mesmo quando o mundo está desabando ao nosso redor. Sem dúvida, alguém pode ver sua própria mente se expandindo ao viajar para o estrangeiro.

Da mesma forma, há uma forte possibilidade de Deus fazer bom uso das dificuldades para aperfeiçoar-nos. No fundo, estamos sempre aprendendo. E aprendemos mais com as tempestades da vida do que com as bonanças. O ideal seria aprender com os erros dos outros, aprender com a leitura de aventuras de terceiros, mas nem sempre isso acontece. E a aventura continua. Ela não termina debaixo de sete palmos de terra. Não senhor. Ela vai além.